terça-feira, 25 de janeiro de 2011

POR QUE PROIBIR O USO DA MACONHA



A maconha está hoje no centro do crime organizado, mas já fora recomendado por médicos e considerado sinônimo de elegância.

A criminalização da planta Cannabis Sativa - único vegetal cuja existência é proibida por lei - talvez seja o maior exemplo de uma decisão exclusivamente política. Tal restrição não possui base em nenhum estudo científico comprovado e foi historicamente utilizada para o controle de populações urbanas pobres, denominadas “classe perigosa” - no Brasil, compostas por africanos e seus descendentes, caracterizando claramente um caso de Racismo Institucional. O seu uso entre os ex-escravos estigmatizou o hábito entre os brancos.

Com a abolição da escravidão, em 1888, os negros ganharam autonomia, mas continuaram a sofrer com a desqualificação social. A capoeira foi proibida no ano seuinte à Lei Áurea, e em 1890, o governo da República criou a Seção de Entorpecentes Tóxicos e Mistificação, para impedir o denominado "baixo espiritualismo". Ou seja, o uso da maconha em rituais de origem africana como o candomblé. À medida que se enraizava nas tradições populares, entre os ex-escravos, índios e repentistas do Nordeste, aumentava a repressão ao consumo. A primeira lei restritiva é de 1830, quando a "venda e o uso do pito de pango" (cachimbo de barro para maconha) foram proibidos no Rio de Janeiro - três dias de cadeia para o negro que pitasse - E me vem a pergunta e se fosse um branco que pitasse? - a pergunta se desfaz no ar como a fumaça da maconha.

Textos de cunho racista, de 1916, passaram a defender a tese que a Cannabis levava negros e nordestinos ao crime. Um dos propagadores desa teoria foi o médico Rodrigues Dória: "Um indivíduo já propenso ao crime, pelo efeito exercido pela droga, privado de inibições e de controle normal, com o juízo deformado, leva à prática seus projetos criminosos". Percebam a carga de preconceito com o negro e o nordestino dito como propensos à criminalidade e marginalidade.

Vários médicos com ideias de pureza racial temiam que o uso da maconha contaminasse os cidadãos brancos. Assim, a partir de 1917, a receita médica passou a ser obrigatória para a Cannabis. E, em 1932, ela entrou na lista de substâncias proscritas. O Estado Novo de Getúlio Vargas institucionalizou a repressão e estabeleceu pena de prisão para os usuários.O governo também negociou com os fiéis do candomblé a retirada da maconha dos cultos, em troca da legalização da religião.

Eu não estou defendendo o uso ou pedindo que ninguem a use, até porque eu não sou usuário, mas o meu objetivo aqui foi mostrar os verdadeiros motivos para a proibição do uso dessa erva, ao ponto de ridiculamente de as pessoas não poderem plantar em casa para uso medicinal. Foi nada mais nada menos de uma outra forma de reprimir as massas populares que ao longo da história deste país e até os dias atuais continuam sendo subjugadas, principalmente os negros, indigenas, nordestinos e pobres.

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